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sábado, 21 de junho de 2014


Liturgia Cósmica
 

Quando, em tempos idos, abandonei

As liturgias da minha infância

Missas, bênçãos e comunhões,

Sacramentos, insígnias e estandartes

Encheu-se a minha alma de dolente nostalgia,

Sofrendo cruciante dores de parto

De uma nova vida,

Ainda não vivida. . .

E nessas angústias de parturição espiritual,

Quando ouvia, ao longe, o tanger dos sinos,

Chamando os fiéis à tradicional liturgia,

Chorava de saudades o meu pobre coração. . .

Hoje, porém, após muito sofrer e orar,

Eu vivo numa imensa catedral

De liturgia cósmica. . .

A minha vida toda é um sacramento,

Envolto em místicas nuvens de incenso. . .

Os meus domingos e as minhas festas

São sete por semana

E mais de três centenas e meia por ano. . .

Sonoras melodias de invisíveis órgãos

Exalam inebriante sacralidade

De hinos e cânticos divinos. . .

No santuário portátil do meu coração

Canta um Te-Deum de glórias divinas,

Vibra um Magnificat de júbilos anónimos,

E eu celebro, diariamente, a minha Missa

E faço a minha sagrada Comunhão

Por entre um Tantum-ergo de um êxtase de amor. . .

Sem altar nem sacerdote visível,

Sem hóstia nem cálice material,

Eu comungo o meu Cristo, eterno e interno,

Em espírito e em verdade. . .

Ah! Se os outros soubessem

Da minha liturgia cósmica !. . .

Que minha alma celebra, sem cessar,

Por toda a parte,

De manhã à noite,

No silêncio da floresta

E no bulício das cidades,

Na hora da meditação solitária

E nos ruídos da vida solidária,

Por entre as luzes de alegria,

E por entre as trevas dos sofrimentos

Sempre e por toda a parte,

Celebro a minha liturgia cósmica,

Desde que realizei o reino de Deus

Dentro de mim mesmo . . .

Desde que me tornei presente a Deus

Que estava sempre presente a mim. . .

Aleluia ! . . .

 

(Huberto Rohden, in “Subindo o Himalaia” – Record Editora, Brasil)

 

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