Liturgia Cósmica
Quando,
em tempos idos, abandonei
As
liturgias da minha infância
Missas,
bênçãos e comunhões,
Sacramentos,
insígnias e estandartes
Encheu-se
a minha alma de dolente nostalgia,
Sofrendo
cruciante dores de parto
De
uma nova vida,
Ainda
não vivida. . .
E
nessas angústias de parturição espiritual,
Quando
ouvia, ao longe, o tanger dos sinos,
Chamando
os fiéis à tradicional liturgia,
Chorava
de saudades o meu pobre coração. . .
Hoje,
porém, após muito sofrer e orar,
Eu
vivo numa imensa catedral
De
liturgia cósmica. . .
A
minha vida toda é um sacramento,
Envolto
em místicas nuvens de incenso. . .
Os
meus domingos e as minhas festas
São
sete por semana
E
mais de três centenas e meia por ano. . .
Sonoras
melodias de invisíveis órgãos
Exalam
inebriante sacralidade
De
hinos e cânticos divinos. . .
No
santuário portátil do meu coração
Canta
um Te-Deum de glórias divinas,
Vibra
um Magnificat de júbilos anónimos,
E
eu celebro, diariamente, a minha Missa
E
faço a minha sagrada Comunhão
Por
entre um Tantum-ergo de um êxtase de amor. . .
Sem
altar nem sacerdote visível,
Sem
hóstia nem cálice material,
Eu
comungo o meu Cristo, eterno e interno,
Em
espírito e em verdade. . .
Ah!
Se os outros soubessem
Da
minha liturgia cósmica !. . .
Que
minha alma celebra, sem cessar,
Por
toda a parte,
De
manhã à noite,
No
silêncio da floresta
E
no bulício das cidades,
Na
hora da meditação solitária
E
nos ruídos da vida solidária,
Por
entre as luzes de alegria,
E
por entre as trevas dos sofrimentos
Sempre
e por toda a parte,
Celebro
a minha liturgia cósmica,
Desde
que realizei o reino de Deus
Dentro
de mim mesmo . . .
Desde
que me tornei presente a Deus
Que
estava sempre presente a mim. . .
Aleluia
! . . .
(Huberto
Rohden, in “Subindo o Himalaia” –
Record Editora, Brasil)
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